BEM TOMBADO
Praça Geraldo da Silva Maia (do Rosário)
Ano de inauguração: 1951
Ano de tombamento: 2011
Estilo: neoclássico
Área: 16.719,38 m²
Descrição do bem tombado
A Praça Geraldo da Silva Maia, conhecida popularmente como Praça do Rosário, localiza-se na região central de Passos, integrada a uma área de grande desenvolvimento econômico e social, além de abrigar importantes prédios públicos, como a Casa da Cultura, e outros bens tombados, como a Fonte Luminosa e o Acervo do Artista Plástico Wagner de Castro. Em seu entorno, ainda estão a prefeitura e o Palácio da Cultura. Seu formato é próximo ao retangular, com acesso facilitado a partir de todas as quatro vias que a circundam, por meio de rampas e escadas.
O estado de conservação é muito bom, sendo de grande importância ambiental bem no centro da cidade, garantindo boas horas de lazer para os visitantes, assim como para quem está de passagem pela praça.
Imagem da Praça do Rosário no Google Maps, que mostra área verde no centro da cidade / Reprodução
Complexo paisagístico da praça reúne árvores de grande e médio porte; abaixo, cenas do espaço público
O complexo paisagístico merece atenção, com árvores de médio e grande porte, como figueiras e sibipirunas. Já as palmeiras se destacam na parte central e as azaleias dominam os canteiros. Dentre outras espécies, encontram-se ali o oiti, salgueiro-chorão, resedá, ipês e um raro exemplar de pau-brasil.
O paisagismo garante amplitude à praça, possibilitando maior integração entre os espaços a partir de todos os pontos do seu interior. A Fonte Luminosa é uma das principais atrações, construída no centro da praça e no eixo de ligação entre o prédio da Prefeitura de Passos e o Palácio da Cultura.
A Casa da Cultura é outro bem cultural instalado na Praça Geraldo da Silva Maia, reunindo espaços importantes, como a Secretaria Municipal de Educação, Biblioteca Municipal Prof. Francisco Soares de Melo e o Acervo Wagner de Castro.
Prédio da Casa da Cultura é sede da Secretaria de Educação, biblioteca e Acervo Wagner de Castro
Histórico monumento aos pracinhas da Segunda Guerra e Terminal de ônibus
A praça ainda abriga o monumento aos pracinhas, implantado no marco zero do município em 14 de maio de 1958, em homenagem aos expedicionários passenses que participaram da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A praça vive em constante movimentação por estar numa área estratégica da cidade, circundada por prédios de serviço público e ruas comerciais, como Presidente Antônio Carlos, Expedicionários, Deputado Lourenço de Andrade e Coronel Neca Medeiros.
Há um constante e intenso fluxo de pessoas no horário comercial, pois na lateral esquerda encontra-se o Terminal Urbano de Integração Zé da Beca, que se comunica com a praça por meio de uma via interna destinada à circulação dos ônibus. O terminal é ponto de embarque e desembarque de diversas linhas municipais, sendo o principal eixo de ligação centro-bairros.
Importância
A praça tem grande importância social e histórica na gênese de Passos, quando a região começou a ser povoada no século 18 até sua elevação à categoria de cidade em 1858, chegando aos dias atuais. O local sempre esteve ligado ao desenvolvimento do então Arraial Senhor Bom Jesus dos Passos, depois Vila e, finalmente, cidade em 1858, tornando-se o epicentro de formação da sociedade passense ao longo dos tempos. No início, ocorriam ali, no chão de terra batida, as tradicionais festas religiosas, como o Reisado e o Congado, incluindo homenagens a Nossa Senhora do Rosário.
O fato se destaca no histórico da cidade, pois no início do século 19 mais de 30% da população do arraial eram de escravos. Essa relação da religiosidade negra com a Igreja Católica gerava um sincretismo religioso, em que as confrarias ficavam sob a evocação de santos, como São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Esses festejos permanecem até hoje nas manifestações folclóricas, com mais afinco nos bairros São Benedito e Penha.
Imagem da população no Largo do Rosário antes da construção da praça / Arquivo Palácio da Cultura
Já no século 20, a praça sediou importantes eventos culturais e manifestações da política municipal, estadual e nacional. Em seu entorno, também foram construídas edificações representativas, como o Paço Municipal em 1919, substituído em 1972 pelo atual prédio da Prefeitura, e o Fórum, onde hoje funciona o Palácio da Cultura.
Dois prédios públicos importantes entorno da praça: Prefeitura e Palácio da Cultura
Nos últimos anos, a praça passou a concentrar os principais eventos sociais e culturais da cidade, como desfiles cívicos, feiras culturais e gastronômicas, shows, apresentações artísticas e réveillons. O local também dá acesso aos principais corredores comerciais do município.
Afora as comemorações especiais e manifestações populares concentradas na praça, o local é palco de eventos importantes, como a anual Feira Literária de Passos, a FliPassos, que homenageia escritores passenses. A ocupação desse espaço público é frequente e, na maioria das vezes, relacionada à cultura, contribuindo para que a Praça Geraldo da Silva Maia se consolide como um local de grande importância histórica, arquitetônica e paisagística para a comunidade local.
História
A história da praça remonta à década de 1820, quando foram construídas duas capelas no então arraial: a de Santo Antônio, na Fazenda Bom Sucesso, por Joaquim Lopes da Silva, e a de Nossa Senhora do Rosário, na Fazenda Brandões, de Domingos de Souza Vieira.
Na frente da igreja do Rosário havia um largo, de grande espaço livre de terra batida, onde os habitantes se reuniam antes das celebrações e os viajantes amarravam seus cavalos na visita à região. A partir desse largo, foi-se construindo a Praça do Rosário como ela se apresenta nos dias atuais.
A data de construção da capela não é precisa, mas há constantes referências ao chamado Largo do Rosário no primeiro livro do Arquivo Municipal de Passos e uma obra religiosa de 1841. O povoado cresceu, aparecendo a necessidade de demarcar as terras.
Início da formação do Largo do Rosário com a Igreja do Rosário no século 19 / Arquivo Palácio da Cultura
Percebeu-se que o arraial encontrava-se dentro das duas fazendas, a dos Brandões e a de Bom Sucesso. Sem poder político constituído para a demarcação, os fazendeiros entraram em conflito, sendo necessária a presença de um mediador — o alferes João Pimenta de Abreu.
Os dois fazendeiros doaram a sua parte em terreno para a formação do patrimônio urbano e religioso do povoado. O próximo passo seria o curato de uma das capelas, mas a devoção também apresentou divergências. Em outubro de 1829, o bispo de São Paulo autorizou a construção de uma nova capela consagrada ao Senhor Bom Jesus dos Passos e localizada entre as igrejas de Nossa Senhora do Rosário e Santo Antônio.
Em 1835, iniciou-se a construção da capela Senhor Bom Jesus dos Passos no patrimônio doado pelos fazendeiros. A inauguração ocorreu um ano depois, denominando o Arraial do Senhor Bom Jesus dos Passos e delimitando a Praça da Matriz. A paróquia foi oficializada em 1840, demarcando uma fase de autonomia religiosa no Arraial, sendo elevada à Vila Formosa do Senhor dos Passos em 1848 e, à cidade em 1858.
Enquanto isso, o Largo do Rosário teve seu entorno modificado pelo crescimento da cidade, sendo cenário de disputas políticas e religiosas. Por volta de 1874, a primeira igreja de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos foi demolida para ser erguido um novo templo, com a Igreja de Nossa Senhora do Rosário assumindo caráter provisório de Matriz.
Na década de 1880, o Largo do Rosário ainda era um espaço de terra cercado por casas com a igreja do Rosário em destaque. No final de ano, sediava Festas de Congado, quando os escravos faziam culto à Nossa Senhora do Rosário, e do Reisado, em que homens iam até a igreja para dar suas esmolas.
Imagem rara do Largo do Rosário sediando festas folclóricas / Arquivo de Eurípedes Gaspar de Almeida
Largo do Rosário como espaço social e comercial na Primeira República / Arquivo Palácio da Cultura
A tradição se manteve depois da Lei Áurea em 1888. Durante a Primeira República, o Largo do Rosário surgiu como espaço de convivência e de intenso comércio. Em 1919, a Câmara inaugurou o Paço Municipal, que abrigava as atividades políticas e o Fórum, consolidando o local como centro político e administrativo de Passos.
Em 1947, Geraldo da Silva Maia (1913-1959) elegeu-se prefeito pelo Partido Social Democrático (PSD). Progressista, realizou inúmeras obras na educação, saneamento básico, captação de água e de infraestrutura. Dentre as prioridades, estava a remodelação do Largo do Rosário por meio da construção de uma praça.
Esse primeiro projeto de remodelação do largo é atribuído ao escultor passense José Barbosa Andrade e Silva, o Zé da Beca (1910-2004), que buscou inspiração neoclássica no formato dos jardins e passarelas. Mudando em definitivo o espaço, a praça foi construída entre os meses de junho e novembro de 1951, com traçado de desenhos geométricos compostos por uma Fonte Luminosa ao centro, além de canteiros e muitas árvores.
Foram instaladas luminárias e bancos de granito doados por famílias da região. Na lateral da praça, voltada para a Avenida dos Expedicionários, construiu-se um terminal rodoviário de linhas curvas e modernas.
Praça do Rosário quando foi remodelada com inspiração neoclássica / Arquivo Palácio da Cultura
A inauguração da praça foi um ato solene, marcado pela presença maciça da população. A partir daí, a Praça do Rosário ficou mais movimentada com o novo espaço de convivência e o trânsito de passageiros na rodoviária. Pouco tempo depois, vizinhos da Igreja do Rosário iniciaram uma campanha alertando sobre a insegurança das torres da capela, que ameaçavam ruir.
A antiga igreja foi demolida em 1954, com autorização da Irmandade do Rosário, que exigiu a construção de um novo templo, erguido depois no bairro Casarão. O prefeito Geraldo da Silva Maia foi preso por motivos políticos, morrendo na prisão em 1959. Em 1972, inaugurou-se o novo e moderno prédio da Prefeitura de Passos e a praça ganhou o nome de Geraldo da Silva Maia, em homenagem ao ex-prefeito e idealizador do espaço.
Nos anos seguintes, o local caiu em desuso, ficando praticamente abandonado. Mas, na década de 1990, a Praça Geraldo da Silva Maia foi reconfigurada, atraindo atividades que determinaram sua ocupação pública e o uso atual pela população passense.
O tombamento provisório da praça ocorreu em 1997 pelo Conselho do Patrimônio Cultural de Passos. Devido ao seu valor histórico, arquitetônico e paisagístico, foi tombada definitivamente pelo Decreto nº 789, em 2011.
Intervenções e restauros
A primeira reforma do Largo do Rosário ocorreu em 1934, quando foram plantadas árvores altas e majestosas, bancos de madeira e um cruzeiro em frente à igreja do Rosário. Nesse ano, a capela também recebeu sua última reforma.
Após a inauguração da nova praça em 1951, uma revitalização do local só aconteceu na década de 1970, quando foi construído um novo prédio para a Prefeitura de Passos, cuja inauguração se deu em 1972. Na época, o jardim sofreu modificações nos canteiros.
Casa da Cultura ocupou o espaço onde ficava o antigo Terminal Rodoviário
A intervenção que mudou a cara da praça só veio em 1988, quando foi demolido o primeiro Terminal Rodoviário, o qual cedeu lugar à Casa da Cultura de Passos, prédio de dois pavimentos com área total de 1.800 m².
A obra foi uma das prioridades do prefeito Cóssimo Baltazar de Freitas, sendo muito criticada devido às severas modificações. Em meio à praça, a Casa da Cultura reuniu biblioteca, salas de pesquisa, anfiteatro e o Acervo do artista Wagner de Castro.
Os bancos foram trocados por exemplares de concreto e madeira e introduziram luminárias de médio porte. Em 2002, a praça recebeu reforma de manutenção, modificando-se algumas plantas e árvores, mas mantendo as características principais de traçado.
O Terminal Urbano de Integração Zé da Beca, voltado para a Rua Coronel Neca Medeiros, foi remodelado em 2006, com alteração na planta, revestimentos e na cobertura. Priorizando linhas modernas, as mudanças descaracterizaram o antigo terminal, mas foram adequadas para a melhoria espacial e estética e garantiram uma melhor integração ao espaço da praça.
Novo Terminal Urbano de Integração foi construído no lado oposto da praça
Funcionamento
Endereço: Praça Geraldo da Silva Maia s/n – Centro
Dias e horários: todos os dias da semana, 24h/dia
Acesso: gratuito
O Mapa Virtual dos Bens Tombados de Passos é uma produção do site Noticiar.net, publicado em outubro de 2024 e realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio Histórico de Passos.
Ficha técnica:
Produção, pesquisa documental, redação e edição: Keuly Vianney
Fotos: Aluísio de Souza e Keuly Vianney
Revisão: José dos Reis Santos
Webdesigner: Mariana de Lima Cruz
Agradecimentos: Marcos Roberto da Silva Costa, Afonsinho Simosono, Ivan Vasconcellos, Maurício Ponsancini, Roseymar Zaroni, Suzana Machado, Samyra Marques
Referências Bibliográficas:
____________. Dossiês de tombamento do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Passos de 1998 a 2020.
____________. 150 anos da Santa Casa de Misericórdia de Passos. Folha da Manhã. Passos (MG), 2014.
____________. 150 anos de Passos. Folha da Manhã e Fesp. Passos (MG), 2008.
____________. A História das Ferrovias no Brasil. Ministério dos Transportes, Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes. Disponível no https://www.gov.br/dnit/pt-br/assuntos/ferrovias/historico
Castro, Wagner. Ensaio para uma Pintura Espírita. Belo Horizonte (MG), 2011.
Noronha, Washington. A História de Passos. Passos (MG), 1969.
Vianney, Keuly. Câmara Municipal de Passos - 170 anos (1850-2020). Passos (MG), 2020. Edição online disponível em https://www.camarapassos.mg.gov.br/camara%20passos%203o%20relatorio.pdf