Vista dos cânions de Capitólio, que recebeu medidas de segurança após tragédia de janeiro
Como Capitólio tenta recuperar turismo seis meses após acidente nos cânions
Reportagem: Keuly Vianney
Fotos: Aluísio de Souza
n.noticiar@gmail.com
31/07/2022
Seis meses após o acidente nos cânions de Furnas, a região de Capitólio, Sul de Minas Gerais, aposta no turismo seguro para voltar a atrair visitantes nos moldes anteriores à tragédia. A cidade tem no setor sua principal atividade econômica e ainda sofre com os impactos da fatalidade, que deixou 10 mortos e 32 feridos no dia 8 de janeiro de 2022.
Mesmo com a retomada gradual das atividades nos último meses, em alguns locais apurados pela reportagem o movimento não chega a 50% como era antes da fatalidade, quando uma rocha se desprendeu de um paredão e atingiu lanchas de passeio que navegavam pelo local. Devido ao acidente, um grupo de geólogos trabalha para criar as primeiras normas de turismo e risco geológico do país.
Desde janeiro, a Prefeitura de Capitólio vem implantando medidas de segurança e monitoramento geológico diário nos cânions. Confira no vídeo abaixo as principais providências adotadas no local, desde que o atrativo foi liberado parcialmente para visitação, no final de março (você também pode ver as medidas em web stories).
A cidade também investiu em treinamento, com cursos e palestras para trabalhadores do setor, e tem incentivado a divulgação de outros atrativos além dos passeios de barco, como visitas a cachoeiras, tours em veículos 4x4, roteiros de aventura, gastronomia e cultura, e até voos de balão.
"Nossa realidade foi mudada pela falta do turista”, reconhece o secretário de turismo de Capitólio, Lucas Arantes Barros. “O acidente também mudou o senso de responsabilidade de quem trabalha com turismo de aventura. Por isso, estamos atuando com as medidas de segurança, a contenção nos cânions indicada pelos geólogos, mais organização, capacitação e profissionalismo do setor.”
A meta também é manter o visitante por mais tempo na região. Desde o acidente, com a exploração de outros atrativos além do Lago de Furnas, esse período tem aumentado, segundo a secretaria.
Mas a redução de visitantes após o acidente derrubou a arrecadação e a renda da cidade, já que o setor é responsável por grande parte do dinheiro circulante em Capitólio e gerador da maioria dos empregos. Para os trabalhadores do setor, foi criado um auxílio emergencial logo após a tragédia.
O secretário lembra que, com a abertura parcial dos cânions no fim de março, já houve retorno de turistas, mas o termômetro será a partir de setembro, quando começa a alta temporada e a primavera-verão 2023.
"O acidente impactou de forma geral todos os setores turísticos. De imediato, a hotelaria sentiu mais, pois alguns empreendimentos tiveram cancelamento de reservas até outubro. Economicamente, prestadores de serviço também sofreram, desde pilotos de lanchas até trabalhadores da limpeza", avalia Barros.
Ele argumenta, ainda, que a tragédia não foi a única responsável pela queda no turismo. "A pandemia, o excesso de chuvas no início do ano em Minas, a baixa temporada e o aumento do combustível também tiveram impacto negativo, além da desinformação nos primeiros dias após acidente", diz Barros, lembrando que o Lago de Furnas nunca esteve totalmente interditado, sendo possível fazer passeios de barcos em outras áreas para além dos cânions.
Um lago, 34 cidades
Ao todo, 34 cidades mineiras são banhadas pelo Rio Grande e formam o Mar de Minas, que possui 1,4 mil km² de área e é cinco vezes maior do que a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Trata-se do maior lago artificial da América Latina / Foto: Divulgação PMC
O secretário executivo da Associação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago), Fausto Costa, afirma que, além de Capitólio, o acidente também teve impacto nas vizinhas São José da Barra e São João Batista do Glória. O Lago de Furnas abrange 34 cidades e a entidade coordena ações na região, incluindo medidas de preservação.
"Quanto aos demais municípios da Alago, não vimos interferência negativa, já que as atividades são diversificadas. Especialmente em 2022, o nível do lago atingiu um patamar muito bom para o turismo", diz.
Reviva Capitólio
A Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) de Minas Gerais também criou ações para revitalizar a região. Em 8 fevereiro, quando o acidente completou um mês, a Secult lançou o programa Reviva Capitólio - Viva o Mar de Minas, com objetivo de recuperar e garantir segurança aos turistas no Lago de Furnas. A campanha listou 80 ações a serem postas em prática, com um investimento de R$ 5 milhões do governo estadual na região.
O plano envolve diferentes órgãos e entidades que trabalham no local, além da sociedade civil. Uma das ações executadas pelo governo mineiro foi a implementação da Rede Integrada de Proteção ao Turismo em Capitólio, São José da Barra e São João Batista do Glória, com investimento de R$ 2 milhões em infraestrutura. O Estado também prometeu aumentar a frota da Patrulha Rural, para reforçar a segurança nos passeios de aventura na região.
Em junho, Capitólio viveu um novo drama. Um acidente na região da Cachoeirinha terminou com duas pessoas mortas, depois que uma lancha com 14 passageiros teve problemas mecânicos e precisou de socorro. Uma chalana que estava nas proximidades, transportando 10 turistas, acudiu o grupo.
Quando os passageiros da lancha subiram a bordo, concentrando-se do mesmo lado da embarcação, porém, a chalana não suportou o peso e virou. O acidente aconteceu a 30km dos cânions de Furnas.
Secretário de turismo Lucas Barros adiantou que cidade vai padronizar serviços do setor
"Com as medidas de segurança, investimentos e capacitações no turismo de aventura e náutico, pretendemos padronizar os serviços na área, produzir um manual de boas práticas e criar um selo para toda região”, promete Barros. “Vamos nos tornar referência com esse manual, pois não existe nada parecido no país".
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Esta série de reportagens é uma produção independente, realizada entre maio e julho de 2022, por meio do programa Acelerando a Transformação Digital, iniciativa do International Center For Journalists (ICFJ) e Meta Journalism Project, dos Estados Unidos, e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Ficha técnica:
Reportagem e produção: Keuly Vianney
Edição e mentoria: Fátima Sá
Fotografias: Aluísio de Souza
Webdesigner: Flávia Ribeiro
Consultant ICFJ: Bruna Borjaille
Programa Manager ICFJ: Alison Grausam